domingo, 25 de setembro de 2016

V. Mudanças

   Já se passou imenso tempo desde o último post e na verdade aconteceram imensas coisas. Passei de gostar do que estava a fazer a detestar, isto porque me senti literalmente explorado. Mandavam-me para um lado e para o outro, conforme as necessidades da empresa mas como a empresa deixou de ter tanto movimento, pois a época baixa já passou, comecei a apanhar grandes secas. E imaginem lá o quanto demora a passar 3 ou 4 horas quando não se tem nada para fazer. Claro que eu, sendo como sou, procuro sempre coisas para fazer. Montei cadeiras, preparei tours para os próximos meses (estou a exagerar um bocadinho), arrumei prateleiras, eu sei lá.

   A pior parte é que, para quem leu o último post, sabe que um dos meus superiores me disse que iria extender o meu contrato até ao final de setembro ou quem sabe até mais para a frente caso continuasse a trabalhar bem. Eu, honestamente, dei tudo o que tinha e disseram-me que iria ficar na Golden Tours. Depois disseram que talvez não desse mas que podia ficar como vendedor de rua (a vender bilhetes para o Hop-on hop-off e para as tours). Eu disse que nesse caso preferia que me dessem uma resposta definitiva o quanto antes para que pudesse procurar outra coisa. Depois voltaram a dizer que sim, e depois que não, e depois outra vez que sim e finalmente, na semana passada, tive a resposta definitiva de que não iria ficar no escritório. Comecei de imediato a procurar trabalho. Mandei CVs para todo o lado durante 2 dias.

   A primeira entrevista que tive foi na última terça e na quinta recebi a notícia de que fiquei !!! Estou extasiado de alegria. Provei a mim próprio, mais uma vez, que quando as pessoas saem da sua zona de conforto (e se esforçam), é quando as coisas acontecem. Ora bem, se ainda estivesse na Madeira, continuava a trabalhar na MEO, quem sabe no máximo como chefe de loja, mas sem qualquer perspectiva de futuro: arrisquei e vim para cá. Se me tivessem dito para ficar na Golden Tours o mais provável era no próximo ano ainda estar na empresa a ganhar um ordenado mísero. O meu contrato acaba dia 2 de Outubro e começo dia 3 na FlashBay, Limited (http://www.flashbay.co.uk/). A minha posição vai ser a de Portuguese Sales Account Manager. Vou ficar responsável pelas vendas para o mercado português. Vou substituir uma portuguesa que vai sair da empresa. O ordenado é mais do que eu poderia desejar tendo em conta que cheguei há dois meses e meio, fica em Chelsea (uma zona toda pipi - ou como se diz por terras de sua majestade - posh). Tenho comissões muito apetecíveis e pelo que me disseram na entrevista, como o mercado português está em expansão, a colaboradora actual ainda não falhou nenhuma vez os seus objectivos.

  Tudo isto vem mesmo a calhar, isto porque eu e a minha namorada vamos morar juntos. Arranjamos um T1 todo XPTO em Forest Hill, sudoeste de Londres. A zona é super tranquila e não podíamos estar mais animados com os últimos acontecimentos. Mudamo-nos dia 1 de Outubro. Agora é queimar os últimos cartuchos aqui na Golden Tours e no dia 1 e 2 tratar das mudanças. Pelo que me parece, o meu futuro é sorridente. Estou feliz, sinto-me realizado, orgulhoso de mim próprio e com vontade de viver a vida. Daqui a um mês ou dois ja devo ter condições para receber visitas. eheh. Stay tuned for more.

F.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

IV. Work work work

  Grandes notícias desde o último post, se bem que podiam ser melhores.

  Pois bem, estou a trabalhar há uma semana na Golden Tours e está a correr muito bem! Basicamente nesta empresa, toda a gente tem o mesmo horário - trabalham 2 dias seguidos das 7 às 20 e depois têm dois dias de folga. No 2.º dia já andava a levar clientes ao Palácio de Buckingham, da 2ª vez completamente sozinho. Podia ter corrido pior, mas mesmo assim consegui perder o autocarro (tive que os levar a pé) e me esquecer de levar um voucher indispensável para o grupo entrar no palácio. "Desemerdei-me", liguei para o escritório e consegui que me entregassem na porta. Não foi perfeito, mas nesse dia houve mais 2 tours para lá e fui com 2 colegas que estavam a fazer a mesma coisa, pela primeira vez, mas já lá trabalham há 1 ano e outra há 3. As pequenas coisas que me dão auto-motivação!
  A semana passou e mal podia dos pés, pois tive que ir à Primark comprar roupa elegante e, claro, sapatinhos de fato, daqueles que normalmente só usaria 1 vez por ano - no Reveillon - ou duas ou três caso de ir a algum casamento ou baptizado. O problema é que das 13 horas de trabalho, 10 são passadas em pé. O que vale é que a partir da 3ª hora já estou bem pois passei do estado de ter os-pés-a-doer-como-o-catano a não-sentir-os-pés.
  Neste momento um dia normal é levantar-me às 5 da matina, sair de casa às 5.50, chegar ao trabalho às 6:50 e depois só chegar a casa Às 21. É cansativo mas depois as folgas compensam e na verdade já estou um bocado mais habituado aos sapatos e àquela rotina. Outra vantagem é que falo com gente de todo o lado e ando de um lado para o outro até às 15. Depois volto para o escritório e fico a preparar a papelada das tours para o dia seguinte.

  Entretanto, na 6ª feira, fui ao Assessment Day na WorldRemit. Tinha grandes expectativas para esse trabalho mas infelizmente não fiquei entre os escolhidos. A parte boa é que falei com o meu supervisor na Golden Tours e disse que podia ficar mais tempo. Ele disse-me que conseguia estender o contrato garantidamente até ao fim de setembro e que se eu continuasse a trabalhar assim que provavelmente me estendia mais um bocado. Isso dá-me alguma segurança para procurar um quarto para mim. É o passo que falta para sentir que daí para a frente já posso começar a planear um pouco melhor a minha vida.

  No que toca a folia, fui a um BBQ na casa de uma amiga da Ana, a Amy, que tinha feito anos nessa semana. Tinha a maior geleira que vi na minha vida e cada um levava bebida. Foi uma festa porreira mas para além disso, a única coisa que fiz assim fora do normal foi conhecer a Clara, a filha do Sousa! Impecável. Conheci também a mãe e o Sousa em modo Pai. ahaha. Impecável!

  Sei que esta altura não é a melhor para fazer um post, na verdade já deveria ter feito há muito tempo. Imagino que toda a gente tenha mais com que se preocupar, nomeadamente com o rescaldo dos incêndios na Madeira. Espero que todos estejam bem, sem danos materiais. Aquela dor de alma eventualmente vai passar, quando o breu se transformar em verde, a morte em vida e a desolação em esperança. Já passamos por isso noutras ocasiões e sempre demos a volta por cima.

   F.

terça-feira, 26 de julho de 2016

III. Boas notícias!

  Olá malta ! Daqui o vosso correspondente directamente de Londres.

  Passou-se mais uma semana e dois fim-de-semana desde o último post.


  No sábado, dia 16 de Julho, fomos a uma prova de vinhos portugueses. Os vinhos eram bons mas o pessoal que lá estava não percebia nada daquilo. Independentemente do vinho ser tinto, branco ou rosé, mantinham as garrafas dentro de um frapê cheio de gelo - e ainda disseram que o tinto se bebia assim porque conheciam o produtor (bullshit). Enfim, por 5£ tínhamos direito a 3 provas de vinhos. Honestamente o que mais gostei foi da SuperBock. Tinham também pastéis de nata, pão com chouriço, rissóis de leitão (a comida estava óptima), entre outras coisas. Foi organizado por um projecto chamado The Portuguese Conspiracy. Vale a pena ficar atento a eventos futuros.


  A semana que se seguiu foi dedicada a enviar candidaturas para 1001 ofertas de emprego, focadas essencialmente em Customer Service e em Vendas. Não recebi nenhuma resposta positiva até sexta, dia esse em que recebi uma resposta de uma empresa chamada WorldRemit, com a indicação de que gostaram do meu CV e que estavam interessados em marcar uma entrevista para ontem (segunda-feira, 25 de Julho).

  Durante a semana houve também uma excelente notícia - a minha prima Leonor foi mãe pela primeira vez, de uma bebé linda chamada Clara Isabel Costa Neves Taylor.


  Na sexta fui jantar a um restaurante em Greenwich com a querida e no sábado fomos passar a tarde, bastante solarenga por sinal, ao Horniman Museum and Gardens. Foi uma tarde muito bem passada!


  

       Domingo estive a preparar-me para a entrevista de ontem para a WorldRemit, mas que foi adiada para hoje. Já tinha tudo preparado mas na verdade ainda bem que foi adiada, pois hoje senti-me muito melhor preparado. A entrevista correu super bem! A empresa é especializada em transferências de dinheiro internacionais online. O salário é muito atractivo, oferecem excelentes possibilidades de progressão na carreira. O cargo ao qual me candidatei foi ao de Customer Support Executive, que envolve contacto directo com os clientes via telefone, live chat ou e-mail. A equipa é super jovem e multicultural, o espaço de trabalho é incrível segundo as fotos, têm até mesa de bilhar, pingpong, xadrez humano e coisas assim para aliviar o stress do trabalho. No dia 5 de Agosto tenho uma dinâmica de grupo onde eles vão ficar a conhecer-nos (a mim e os restantes candidatos) um bocadinho melhor, assim como nós a empresa e as nossas supostas funções, e por fim também teremos uma entrevista cara a cara com um dos customer care managers. Caso corra tudo bem, por volta de dia 9 de Agosto dão-me o feedback e, caso seja positivo (estou confiante que sim), darão início ao background check. Portanto se tudo correr bem começo em Setembro.


  As boas notícias ainda não acabaram. Durante a entrevista telefónica recebi outra chamada que retribuí assim que me foi possível. Chamaram-me para um contrato com duração entre 6 a 8 semanas para começar ASAP numa empresa chamada Golden Tours. Tenho amanhã de manhã uma entrevista. Basicamente a função é encontrar-me com os clientes nos pontos de encontro e assegurar-me de que todos têm os bilhetes, explicar o tour que vão fazer e acompanhá-los do ponto A ao ponto B. Expliquei à recrutadora que tenho um compromisso dia 5 de agosto e que possivelmente só teria disponibilidade até ao final de agosto. Já voltei a ser contactado com a indicação de que não há problema e amanhã vou então à entrevista às 11 da manhã.

  


  Honestamente, ontem estava um pouco desmoralizado. Hoje estou com uma fezada do caraças! A coisa está a compor-se. Estejam atentos :P



F.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

II. First week in London

  Há precisamente uma semana atrás estava eu ainda em casa, já de malas feitas, ainda não completamente consciencializado da mudança que estava prestes a acontecer.

  Cheguei tarde, à 1:30 da matina de sábado, ao aeroporto de Gatwick. Correu tudo sem precalços e já tinha uma gatinha à minha espera no aeroporto. Como o voo atrasou e aterrei 2 horas e meia após a hora prevista, apanhámos um táxi até casa, pois a British Airways reembolsou o dinheiro (50£) da viagem.

 Sábado fomos jantar a Lewisham, mais especificamente ao Model Market - Street Feast (vê mais aqui). Basicamente é um recinto (meio degradado) onde existe um mercado mas que de vez em quando no Verão, é transformado numa espécie de mercado gastronómico cheio de gente animada e maioritariamente jovem, onde se pode (naturalmente) comer e beber, dançar, .. comemos mega hambúrguer e bebemos uma garrafinha de vinho branco.

  
Domingo - dia da finalíssima do Euro2016 - fomos passear a Camden. Já lá tinha estado em Março. Digo-vos só que é o primeiro sítio onde vou levar qualquer pessoa que me venha visitar. Não é exactamente um espelho de Londres, mas é deslumbrante, cheio de gentes, de cheiros, de sons. Vale tanto a pena. No final do dia fomos jantar e ver o jogo na casa de uns amigos portugueses, emigrados há muitos anos. Foi mais intenso do que ver um jogo em Portugal. Vivem o jogo com uma emoção muito maior que nós (ou devo dizer vocês), residentes em Portugal. A dona da casa quase que tinha um ataque cardíaco por diversas vezes. É contagiante. No final do jogo fomos, como verdadeiros emigrantes que somos, festejar para Stockwell. Acho que tinha tanta gente como a Avenida do Mar, com fogo de artifício e o catano.

  
Na segunda tive que começar a fazer pela vida. Contactei o Jobcentre Plus para marcar a entrevista para ter o meu National Insurance Number. Marcaram-me para a próxima 2ª feira, dia 18. Tenho que levar o meu passaporte e um comprovativo de morada. Como não tenho nada em meu nome, tentei abrir uma conta num banco e assim já não me preocupava com mais nada, mas também preciso de um comprovativo pelo que tentei registar-me no GP (Centro de Saúde) mais perto do sítio onde estou a ficar, mas para isso preciso de dois comprovativos de morada. Supostamente já devia ter recebido uma carta do National Insurance (com a confirmação da data, hora e local onde tenho que me apresentar mas até hoje nada). Essa carta já serve para abrir a conta do banco e a papelada do banco já serviria para apresentar no Jobcentre. Liguei há pouco para lá mas disseram-me que se as pessoas que vivem comigo passarem uma declaração em como isso é verdade, não tem problema. 

  Durante o resto da semana tenho andado a candidatar-me a ofertas de emprego mas ainda não recebi nenhuma resposta positiva. No entanto recebi hoje um e-mail de um senhor, o Mr. Alex Russel que é recrutador numa agência de recrutamento. Á partida tenho entrevista na 2ª feira à tarde.

  Fora isso, tenho dado umas voltas pela cidade, umas vezes sozinho, outras acompanhado. Já me oriento relativamente bem, essencialmente com a ajuda da melhor app do mundo, Citymapper <3.

  Ontem fomos tomar uma cerveja ao fim da tarde a Regent Street e depois fomos a Brixton, a um mercado todo catita, comer o melhor hambúrguer da minha vida. Estou a ser honesto. Não é por acaso que se chama Honest Burgers.
F.

I. “Life is what happens while you’re waiting for something else.”, Albert Camus.

Estou sentado no avião a caminho de Londres, a 10000m de altitude (ou mais) quando, finalmente, decidi começar a (d)escrever a minha experiência.
Para que faça sentido, vou voltar 2 anos atrás quando, em meados de Julho, quando estava sentado num outro avião em direcção à Madeira.

Tinha concluído a pós-graduação e decidido voltar às minhas raízes onde, pensava eu, seria bem-sucedido e onde me sentiria realizado profissionalmente. Saíu-me naturalmente o tiro pela culatra, numa altura em que o país atravessava a crise numa fase mais crítica. Desempregado até Fevereiro de 2015, comecei em formação para integrar uma loja oficial da MEO.

Não era nada daquilo que eu ambicionava, mas também que ambicionava eu? Não tenho a certeza de que a área da gestão é a minha praia mas tenho a certeza que não quero passar a minha vida atrás de uma secretaria. Preciso de gente, de falar, de me mexer! Essa foi a parte mais positiva da minha passagem pela MEO. Descobri que tenho jeito para pessoas, que me adapto a qualquer uma, quer venha com uma pedra na mão ou com um sorriso de orelha a orelha. Consigo tirar a fotografia, adaptar naturalmente o meu discurso ao cliente que tinha ao balcão e, na esmagadora maioria das vezes, fazer com que o mesmo saísse da loja satisfeito. A parte negativa era o facto de não ter quaisquer perspectivas de progredir na carreira, nem sequer de encontrar outro emprego na Madeira. É verdade que me desleixei na procura, mas também trabalhar 6 dias por semana, sempre com uma pressão tremenda no trabalho para cumprir os objectivos e ainda andar com a mesma vontade à procura de outra coisa é fácil, mas é de falar; fazer ‘tá quieto!

A insatisfação começou a crescer dentro de mim, comecei a ter dificuldade em me auto-motivar e comecei a não conseguir “desligar o botão” quando saía do trabalho. Comecei a me fechar para o Mundo de 2ª a Sábado e a ser intolerante com as pessoas que me rodeavam. Sinto que comecei a não gostar muito de mim. Aquela coisa de sair do trabalho ao sábado às 15h para começar o fim-de-semana, apanhar um bebedeirão com a malta e passar todos os domingos a ressacar começou a soar a autodestruição.

Tenho tantos amigos que arriscaram e emigraram, uns porque estavam em situações semelhantes à minha, outros porque uma oportunidade surgiu. Na verdade não me vem à memória ninguém que tenha regressado, pelo menos pior do que quando foi.

Quero provar a mim próprio uma porrada de coisas, quero conhecer o Mundo, quero viver novas experiências, quero SENTIR-ME VIVO e orgulhar-me de mim próprio!

Não tenho trabalho garantido mas tenho vontade de vencer, de trabalhar no duro mesmo que isso signifique fazer limpezas, lavar pratos ou sacudir tapetes. Não me interessa. Quero começar por baixo, quero ser recompensado pelo meu esforço e quero ter histórias para contar.

Na verdade já me sinto orgulhoso de mim próprio por ter dado um passo que muita gente não consegue dar, mas também tenho que agradecer a uma série de pessoas especiais que me apoiaram na minha decisão. Vocês sabem quem são.

Vou aterrar por volta da meia-noite e meia e já vou ter uma pessoa muito especial à minha espera. Alguém que me devolveu o sorriso e que me tem feito sentir vivo. De qualquer das formas sinto que a vida vai começar agora. Não é o virar da página, é o primeiro capítulo. Até agora foi só o prefácio.

F.